Ultimamente tenho a sensação de que o tempo está correndo e eu estou numa disputa acirrada para acompanhá-lo. Parece que tento sempre estar à sua frente, para conseguir olhar para trás e dizer: olha, cheguei antes de você: fiz tudo o que eu precisava e queria e agora me restou tempo para me dedicar a colocar projetos em prática, para atividades criativas, para meditar, para iniciar aquela mudança de carreira que engavetada ou qualquer outra mudança, sonho ou plano que eu nunca tenho tempo para fazer.
Mas a realidade é que na maior parte do tempo me sinto atropelada, correndo desengonçada e quase caindo, ficando sem ar já nos primeiros 100 metros. Sinto uma angústia com pensamentos do tipo “O ano está voando!” ou “Já é meio do ano?”. E fico me perguntando, será que eu uso mal o meu tempo? Eu estou tentando abraçar o mundo? Ou nunca estou plenamente satisfeita? Quer saber, eu acho que é um pouco de cada.
O tempo é aquela coisa meio abstrata, difícil de definir, cuja finitude nos incomoda. Ter tempo livre para algo ou o poder de escolha do que fazer com ele é um privilégio que não se estende para todas as pessoas. Então quando algo parece estar tomando o meu tempo com a sensação de descontrole, me pego pensando: “isso vai importar daqui 5 anos”? Se a resposta for “não”, tento mudar conscientemente e fazer outra coisa que eu considere mais importante.
E essa urgência de fazer tanto? Tantas atividades a serem cumpridas como se fossem um cronograma e como se o nosso corpo fosse uma máquina que sempre trabalha com foco, de forma sistemática e incessante. E por que acreditamos que precisamos fazer tanto? A magnitude de coisas que nos propomos a fazer, ainda que mentalmente, pode te paralisar de começar qualquer coisa. Nessas horas, eu tento respirar fundo, colocar tudo no papel e começar pelo que realmente é importante pra mim. Simplesmente começar algo e conseguir fazer uma coisa do início ao fim, já me traz uma sensação de bom aproveitamento do meu tempo.
E nessas reflexões sobre o tempo, não poderia deixar de falar sobre o tempo que nos é “roubado” nas redes sociais. Não sou uma defensora de vivermos sem tecnologia ou uma negacionista de todos os benefícios que as redes sociais nos proporcionam. Mas gosto de pensar que eu tenho controle sobre o tempo que uso em redes sociais, visto que somos um dos países que mais as utiliza no mundo! Por isso tenho tentado tirar “férias” de redes sociais, ainda que só de vez em quando. Porque além do tempo em si, levamos muita coisa conosco após desligar o aplicativo: novas necessidades, impulsos, comparações, sensações de que o que você tem ou o que você é não são suficientes.
Quando a gente se desconecta um pouco e diminui essa quantidade de estímulos, parece que os nossos pensamentos também vão desacelerando e, pouco a pouco, é possível observar como você tem utilizado o seu tempo ao longo de um dia normal, rotineiro. E essa é a pergunta mais importante: como você tem usado o seu tempo nos dias normais, dias sem acontecimentos extraordinários, nos dias em que precisa cuidar da casa, trabalhar, e fazer um malabarismo para encontrar o tão desejado tempo livre?